Algumas especialidades médicas sempre foram predominantemente masculinas. No entanto, com coragem, determinação e amor pela profissão, mulheres vêm rompendo barreiras e conquistando cada vez mais espaço. Esse é o caso de Nathália Souza e Silva e Larissa Cavalcante Amora, as primeiras mulheres a concluírem a residência em cirurgia torácica do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (HM), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
Criada em 2003, a residência em cirurgia torácica do HM, em parceria com a Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), formou 26 cirurgiões ao longo de sua existência. Contudo, até 2024, nenhuma mulher havia concluído essa especialização no estado. Nathália e Larissa mudaram essa realidade ao se formarem em 2024 e 2025, respectivamente, abrindo caminho para outras mulheres que sonham em seguir essa carreira.
A trajetória das duas médicas foi marcada por desafios. O ambiente predominantemente masculino, as altas exigências acadêmicas e a carga emocional envolvida na cirurgia torácica não foram suficientes para desmotivá-las.
“A cirurgia era um sonho antigo, veio antes mesmo da medicina. Em 2019, fui a primeira residente de cirurgia geral do Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA). Durante os rodízios, passei pelo HM e me encantei pela cirurgia torácica. Em 2022, após a pandemia de covid-19, comecei a residência”, conta Nathália Souza.
Sua jornada foi repleta de desafios, pausas e retomadas, mas sempre marcada pela superação. No início da residência, Nathália descobriu que estava grávida e precisou se afastar das atividades por seis meses.
“Trabalhei até poucos dias antes do parto, mas precisei interromper a residência durante a licença-maternidade. Voltar foi desafiador, parecia estar começando do zero. Precisei me dedicar ainda mais. Conciliar residência e maternidade também não foi uma tarefa fácil, mas, apesar da distância de casa e dos meus filhos, nunca pensei em desistir. Tive uma rede de apoio fundamental nesse processo e faria tudo de novo”, relembra emocionada.
Sem saber, Nathália estava abrindo portas para sua colega Larissa e para outras mulheres que desejam trilhar o mesmo caminho. As duas se conheceram durante a residência de cirurgia geral e logo criaram um forte laço de amizade. “Ela sempre foi uma fonte de inspiração para mim. Me ensinou os primeiros passos da cirurgia geral, pegou literalmente na minha mão, e criamos um laço muito forte de união”, destaca Larissa Cavalcante.
A médica também sempre se interessou por cirurgia e buscava uma subespecialidade que proporcionasse uma ampla gama de atuações, desde consultas e exames até grandes cirurgias. “Passei um mês acompanhando o serviço de cirurgia torácica em Messejana e me encantei. Encontrei nela todos os quesitos que procurava e prometi voltar como residente. Assim fiz, em 2023, com a permissão de Deus”, afirma.
Durante a residência em cirurgia torácica, a parceria entre as duas se fortaleceu ainda mais. “Estávamos sempre juntas, apoiando uma à outra. Foi essencial ter essa companhia ao longo da caminhada”, reforça Larissa Amora.
A especialidade requer muita dedicação e preparo técnico, por abranger procedimentos relacionados as vias respiratórias, pulmões e parede torácica, sendo fundamental para o tratamento de doenças como câncer de pulmão, enfisemas, malformações torácicas e transplante.
“Cada uma de nós tem sua trajetória, seu caminho e uma realidade diferente. Então, o principal conselho que posso dar é: não se compare! Faça suas escolhas, lute suas lutas, siga seu sonho e seja determinada. Estou aqui para mostrar que é possível, que dá certo, apesar de tudo. Acho que com dedicação tudo é possível”, incentiva, Nathália.
Para Larissa, a conquista transcende o aspecto pessoal: “ser mulher não é um fator limitante e eu quero muito que todas entendam isso. Para mim, essa conquista de finalizar residência será ainda maior, se alguma acadêmica de medicina for inspirada e escolher seguir seus sonhos”, descreve.
Mín. 19° Máx. 24°