Neste 11 de fevereiro, que é celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, a Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), vinculada à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), homenageia as mulheres que compõem seu quadro de cientistas e pesquisadoras e tornam a ciência aplicada à segurança pública uma missão e desafios honrosos.
Desde que se estabeleceu como um meio de aprimorar e evoluir o conhecimento humano ou aperfeiçoar o seu modo de viver, de combater doenças ou se beneficiar das forças da natureza, a Ciência, de tempos em tempos, é questionada, negada ou ratificada. De Copérnico a biomédica baiana Jaqueline Goes, a Ciência fica, a estupidez e a cegueira passam.
No caso da cientista nordestina Jaqueline Goes de Jesus, 35, coordenadora da equipe que sequenciou o genoma da Covid-19 no Brasil em tempo recorde, 48 horas, em relação a outros países, o desafio foi compartilhado com outra mulher, a professora Ester Sabino. Ambas dividem a coordenação do projeto Cadde (Centro de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus), uma parceria do Brasil com o Reino Unido.
Alice Pontes e Izabele Barros compõem o time de estatísticas da Geesp
De várias profissões do mercado tradicional ou da era digital, a Estatística é, sem dúvida, uma das que poucas pessoas sabem realmente como é desenvolvida, onde se aplica, que tipo de formação é necessária, em que setor o profissional atua. Para Alice Pontes, 28, estatística da Gerência de Estatística e Geoprocessamento (Geesp) da Supesp, ainda sem saber exatamente em qual curso ingressar na universidade, o curso surgiu por estar dentro do interesse da área de exatas.
“Só conheci Estatística quando analisava as opções no Sistema de Seleção Unificada (Sisu); vi a descrição do curso, gostei e escolhi”, explica Alice, completando que a profissão pode ser utilizada em diversas áreas do conhecimento, sendo uma ferramenta essencial para entender e traduzir melhor diversos fenômenos, como os próprios indicadores da segurança pública.
Com a pergunta acima, um estudante que concorria na prova do Enem 2024 (ver questão abaixo) gerou muitos memes na internet, mas principalmente, revelou a dificuldade de muitos alunos equacionarem uma resposta por meio de um raciocínio lógico e matemático. Com o curso de Estatística ocorre algo semelhante, segundo a estatística da Geesp, Izabele Barros, 28. Quando o profissional responde a pergunta de qual curso fez ou qual a profissão exerce, a dúvida vem em seguida: mas o que faz mesmo um estatístico?
“Quase ninguém escolhia o curso como primeira opção no Enem. Minha primeira decisão era para Engenharia Civil, mas depois que um professor me falou de uma palestra onde uma mulher explicava muito bem sobre Estatística, e eu tenho muita afinidade com matemática, deu certo”, diz Izabele, que ingressou num mercado aquecido pela demanda da Ciência de Dados, estatísticos, riscos empresariais calculados geométrica e exponencialmente, do mundo do esporte, pesquisas de opinião até as bigtechs, que exploram e mapeiam hábitos de consumo até territórios de disputa política.
A diretora da Dipas, Juliana Barroso, coordena os projetos de pesquisa e avaliação em segurança pública
Jamily Santos, estatística da Diretoria de Pesquisa e Avaliação em Políticas Públicas (Dipas) da Supesp, também não sabia, como a maioria, o que exatamente faz um profissional da área nem o que estuda. “Sempre fui boa com números e resolvi escolher o curso de estatística, mesmo sem saber exatamente o que envolvia”, disse Jamily, que diz ter passado por preconceito quando ouviu que a profissão não era para mulheres e reforça que a tecnologia é essencial para o trabalho do estatístico, pois permite a coleta, armazenamento e análise de grandes volumes de dados de forma eficiente e precisa.
Da equipe de sociólogas, Giovanna Santiago também integra a equipe da Dipas há quase quatro anos
Análise Exploratória de Dados, Amostragem, Probabilidade, Regressão, Cálculo Diferencial e Integral são algumas das disciplinas da grade curricular do curso de Estatística. Apesar de parecer um universo muito peculiar, essa realidade nos rodeia o tempo todo, em vários segmentos profissionais.
Mesmo no século XXI e com toda a importância que a Ciência tem em nossas vidas, quando se trata de ser mulher, negra, nordestina e muito jovem, a barreira de dificuldades se impõe com muita força e com Maria Larissa Ferreira Paiva, 19, infelizmente não foi diferente.
A cearense Larissa Paiva lidera iniciativas para participação de mais mulheres na ciência e popularização do conhecimento científico
“Esse dia é um lembrete de que, apesar dos avanços, mulheres e meninas ainda precisam lutar pelo direito de ocupar espaços na ciência. Para mim, que sou uma jovem do interior do Ceará, neurodivergente, mulher, LGBTQIAP+ e oriunda da escola pública, a ciência e o STEAM (science, engenharia, technology, arts, matemática) sempre foram lugares de perguntas, mas por muito tempo, parecia que não era um lugar para mim. Cresci sem referências femininas na Astronomia e fui encontrando meu caminho sozinha, estudando por conta própria e participando de olimpíadas científicas. Para hoje, ter uma rede de apoio linda de mulheres que crescem juntas”, conta Larissa Paiva, que no seu perfil @larittrix detalha muito sobre sua trajetória, dos desafios no município de Pires Ferreira, Sertão de Sobral, até o reconhecimento como Embaixadora da Popularização da Ciência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mais perfis sobre mulheres na Ciência: @eumedalhei e @time.larittrix
Jamily Santos é estatística e assessora da Dipas
Para enfrentar a xenofobia, o machismo, ataques na internet, a jovem astronauta análoga*, a primeira do Estado, contou com o importante apoio do movimento Força Meninas @frmeninas, que incentiva a participação de meninas e mulheres na ciência e onde Larissa ganhou um prêmio nacional, em 2023, na categoria líder. “Levar a ciência para as pessoas e levar as pessoas para a ciência. Ciência precisa de diversidade, precisa de novas perspectivas”, diz Larissa.
*Termo usado para se referir a pessoas que realizam simulações de missões espaciais sem sair da Terra
A partir de 2020, segundo Izabele, as oportunidades na área só vêm aumentando, já que o conceito de ciência de dados começou a ser amplamente difundido e as pessoas começaram a entender a necessidade da Estatística diante da vasta disponibilidade de dados e informações que se produzem hoje em dia.
A mais recente aquisição da Supesp, a economista Luciana Rodrigues, atua na formatação de modelos econômicos para identificar padrões de criminalidade
No campo da Sociologia e da Economia, o entendimento e essa amplitude do conhecimento científico tem produzido diversas análises e conceitos, que ajudam na elaboração de políticas públicas para o combate à criminalidade. Com esse DNA, a Supesp vem investindo forte em equipes multidisciplinares, da Geografia, Estatística às Ciências Sociais.
Para a diretora de Pesquisa e Avaliação em Políticas Públicas (Dipas) da superintendência, Juliana Barroso, o investimento pesado em pesquisa, avaliação de políticas por parte do Governo do Ceará por meio da Supesp, tem nos mostrado realidades distintas do fenômeno da violência, do que acontece aqui no Ceará e em outros estados. “Essa investigação que o órgão se propõe a fazer tem um impacto decisivo na política pública. A metodologia, por exemplo, utilizada no Programa Integrado de Redução e Prevenção à Violência do Governo do Ceará (PreVio) é uma ferramenta importante para atuarmos na prevenção e delimitação de desafios específicos relacionados à criminalidade”, pontua a diretora.
Segundo a especialista cearense, que já atuou pela Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, na Coordenação de Informação, Estatísticas e Acompanhamento das Polícias, em Brasília, a fenomenologia da violência é um desafio cada vez maior, pois mais dinâmica e atingindo vítimas e padrões atípicos, dos jovens às mulheres e estruturas mais ramificadas.
Na visão de quem tem a Economia como lastro de conhecimento, a segurança pública não depende apenas de ações policiais, mas também de uma compreensão aprofundada dos fatores socioeconômicos que influenciam a criminalidade. “A economia permite analisar questões como desigualdade, desemprego e acesso a serviços básicos, ajudando a formular políticas mais eficazes e preventivas”, analisa Luciana Rodrigues, assessora e economista da Dipas. Do Programa Cientista-chefe, que já foi coordenado por uma mulher da área da computação e hoje tem a participação de várias profissionais, a Supesp é modelo de fazer científico, que vem corroborando as atividades policiais no Ceará.
Dos métodos estatísticos e modelagem econômica para identificar padrões de criminalidade, como indica a assessora Luciana Rodrigues, até avaliação de políticas públicas, produção de dados e indicadores para propor soluções que contribuam para a segurança da população, a superintendência rende sua homenagem a essas mulheres decisivas no setor público.
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